“O Estranho Mundo de Jack” (“The Nightmare Before Christmas”), dirigido por Henry Selick e produzido por Tim Burton, é um clássico do cinema que mistura elementos de duas das festas mais queridas do ano: Halloween e Natal. Lançado em 1993, o filme rapidamente se tornou um ícone da cultura pop, especialmente por sua estética única, trilha sonora marcante composta por Danny Elfman, e a maneira como combina o sombrio e o alegre de forma impecável. Porém, uma questão ainda divide fãs e críticos: “O Estranho Mundo de Jack” é um filme de Halloween ou de Natal?
A Estética e Temática de Halloween
Grande parte da narrativa de “O Estranho Mundo de Jack” se passa na Cidade do Halloween, um lugar habitado por criaturas sombrias e assustadoras, como esqueletos, bruxas, vampiros e lobisomens. Jack Skellington, o protagonista, é o “Rei das Abóboras”, uma figura de liderança no Halloween e, portanto, a ligação com essa festividade é inegável.
A atmosfera do filme é sombria, com tons de preto, cinza e laranja predominando na Cidade do Halloween. As figuras que habitam essa cidade são típicas do que se esperaria de um filme de terror leve, com uma estética macabra, mas sem perder a doçura de uma animação destinada ao público geral. O próprio enredo começa após as celebrações do Halloween, quando Jack se sente desiludido com sua função de assustar e decide procurar algo novo, desencadeando a descoberta da Cidade do Natal.
O Espírito de Natal e a Redescoberta de Jack
Por outro lado, o filme também explora profundamente os temas natalinos. Ao descobrir a Cidade do Natal, Jack se encanta com a alegria, as cores vibrantes e o espírito de generosidade que o Natal evoca. Ele decide, então, se apropriar da festa e trazer esses elementos para sua própria realidade. Jack assume o papel de Papai Noel, com a intenção de espalhar o Natal em vez de sustos.
A ideia de resgatar o espírito do Natal – a alegria, o amor e a generosidade – é central à narrativa. Embora Jack comece de maneira equivocada, ao tentar transformar o Natal em algo assustador, ele eventualmente compreende o verdadeiro significado da festividade. Assim, o filme transmite mensagens tipicamente natalinas de redenção e descoberta de um propósito mais profundo.
As canções de Danny Elfman também reforçam essa dicotomia entre Halloween e Natal. Enquanto “This is Halloween” captura perfeitamente a atmosfera da festividade das bruxas, músicas como “What’s This?” mostram a fascinação de Jack pelo Natal e os elementos mágicos que o rodeiam.
O Conflito Entre as Duas Festividades
Além da estética e da narrativa, o próprio conflito do filme reforça a tensão entre Halloween e Natal. Jack, cansado de sua rotina no Halloween, tenta assumir o papel de Papai Noel, mas comete erros no processo, criando uma versão distorcida do Natal. Ao entregar presentes que assustam em vez de alegrar, ele provoca pânico em vez de celebração.
Esse conflito reflete o choque entre as duas culturas: o macabro e o assustador do Halloween versus o calor e o conforto do Natal. Ao longo da história, Jack percebe que o Halloween tem seu próprio valor e beleza, e que o Natal não é algo que ele pode ou deve transformar. No final, ele retorna à sua identidade como o Rei das Abóboras, restaurando a ordem nas duas festividades.
Elementos que Favorecem a Ambiguidade
Uma das razões pelas quais o filme é tão ambíguo quanto à sua classificação é a forma como equilibra os elementos de ambas as festas. Não se pode negar que há um forte aspecto de Halloween presente durante toda a narrativa, especialmente na forma como os personagens são desenhados e o cenário é construído. Contudo, o arco emocional e a conclusão de Jack estão profundamente ligados ao espírito do Natal.
O personagem de Jack Skellington, apesar de ser o líder do Halloween, passa grande parte do filme fascinado pelo Natal. Sua jornada de autodescoberta está alinhada com temas comumente explorados em filmes natalinos, como encontrar o verdadeiro significado da felicidade e entender o valor das tradições.
Afinal, é um Filme de Halloween ou de Natal?
Se considerarmos a ambientação, a estética e a introdução do filme, “O Estranho Mundo de Jack” poderia ser facilmente considerado um filme de Halloween. A Cidade do Halloween é o cenário principal, e a maior parte dos personagens vem desse universo sombrio e cheio de criaturas assustadoras.
Por outro lado, se olharmos para a mensagem do filme e a forma como o Natal é apresentado, não há dúvida de que a essência da narrativa está enraizada no espírito natalino. Jack aprende sobre o significado do Natal, e o filme culmina em uma celebração dessa festividade, com um final que reforça a importância de cada feriado manter sua própria identidade.
Portanto, a melhor resposta talvez seja que “O Estranho Mundo de Jack” é um filme que transcende essa dicotomia. Ele é, ao mesmo tempo, um filme de Halloween e de Natal, e é essa fusão que o torna tão especial. A dualidade das festas reflete o próprio desejo de Jack de buscar algo além de seu mundo, e a descoberta de que cada celebração tem seu valor único.
Seja assistido em outubro ou em dezembro, “O Estranho Mundo de Jack” continua a cativar tanto os fãs do assustador quanto os do festivo. Em última análise, o filme permite que cada espectador decida a qual celebração ele mais pertence – e talvez essa seja a magia da obra: ele não precisa se definir entre Halloween ou Natal, pois é um tributo perfeito a ambos.